quinta-feira, 9 de junho de 2011

UM MUNDO MELHOR

Os dois últimos anos não foram fáceis para o mundo. Pouco depois de brindarmos um novo milênio cheio de esperanças, vimos como o terrorismo, a recessão econômica e a falta de respeito aos direitos humanos instalaram temor e incerteza nos corações dos cidadãos dos países ricos e pobres igualmente. Os contínuos conflitos, as secas e inundações, a instabilidade nos mercados e o agravamento da pobreza provocaram numerosas vítimas, sobretudo na África e América Latina.
Como tornar possível um mundo melhor para todos é o que os representantes da sociedade civil do mundo debatem esta semana no Terceiro Fórum Social Mundial (FSM), em Porto Alegre. Seus desafios são os mesmos que estamos enfrentando e debatendo no Banco Mundial.
Seja em Porto Alegre, Bamako ou Washington, estes debates são importantes. Certamente, ninguém na sociedade civil ou no Banco Mundial pode pretender ter todas as respostas para estes monumentais desafios. Entretanto, creio que é promissora a evidência de um crescente consenso entre os que trabalham em agências internacionais e líderes governamentais, empresariais e da sociedade civil, de que podemos resolver estes problemas somente se forjarmos um novo caminho de desenvolvimento que vincule o crescimento econômico à responsabilidade social e ambiental.
Sem igualdade social o crescimento econômico não pode ser sustentável. Se não ampliar-se a todos os cidadãos as oportunidades reais disponíveis, os mercados trabalharão unicamente para as elites. Isto significa que é necessário proporcionar a todos acesso à educação, serviços de saúde, trabalho decente e, como destacou o novo presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, acesso a pelo menos três refeições por dia.
Os acontecimentos de 11 de setembro de 2001 ajudaram a difundir a mensagem de que não existem dois mundos, o rico e o pobre. Existe apenas um. Estamos unidos pelas finanças, pelo comércio, a migração, as comunicações, o meio ambiente, enfermidades contagiosas, o crime, a droga e, desde então, pelo terror.
Hoje em dia mais e mais pessoas concordam em que a pobreza em qualquer lugar é pobreza em todas as partes. Nossa demanda coletiva é por um sistema global baseado na igualdade, nos direitos humanos e na Justiça social. Este crescente consenso tem seu papel no surgimento de uma aliança global a favor da redução da pobreza. Nas recentes conferências das Nações Unidas em Monterrey e Johannesburgo, e durante o lançamento da rodada de negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Doha, os países desenvolvidos comprometeram-se a ajudar os países em desenvolvimento através do fortalecimento da capacidade institucional, do aumento da ajuda internacional para o desenvolvimento, da abertura de mercados e da redução de subsídios á agricultura.
Por sua vez, os países em desenvolvimento se comprometeram a estabelecer políticas econômicas sustentáveis e a promover a governabilidade. Tanto os países ricos como os pobres ratificaram seus compromissos para alcançar as Metas de Desenvolvimento do Milênio. No Banco Mundial reorientamos nossa estratégia para ajudar os países em desenvolvimento a atingirem suas metas: reduzir à metade a pobreza, garantir educação básica e saúde para todos, promover a igualdade entre os sexos e proteger o meio ambiente.
Nos próximos 50 anos seremos testemunhas do aumento da população mundial de seis para nove bilhões de pessoas, com quase 95% desse crescimento no mundo em desenvolvimento. As necessidades de alimento dobrarão, a produção anual de dióxido de carbono triplicará e, pela primeira vez, mais gente viverá nas cidades do que nas áreas rurais, provocando enorme tensão sobre a sociedade, a infra-estrutura e o meio ambiente. Se queremos conseguir nossa meta comum de reduzir a pobreza, calculamos que precisaremos de uma taxa média de crescimento anual da economia mundial de aproximadamente 3,5%, o que representará, talvez, um produto interno bruto de US$ 140 trilhões até 2050.
No entanto, este deve ser um crescimento responsável que contemple os interesses sociais e ambientais. Isto significa maior transparência, de tal forma que o público possa acompanhar as políticas de governo. Aqui é onde a sociedade civil, nos níveis local, regional e global, pode ter papel decisivo. Os grupos civis dão voz a quem não tem, distribuem serviços essenciais e forjam a capacidade local, sobretudo em regiões onde a presença do governo é fraca.
Por muitos anos o Banco Mundial, como outras instituições, ignorou a sociedade civil. Durante a última década estivemos envolvendo ativamente organizações da sociedade civil ao redor do mundo em debates sobre políticas e em projetos que financiamos. Não tenho dúvidas de que se deve agradecer à sociedade civil pelos progressos no alívio da dívida e no meio ambiente, e pela melhor execução dos projetos do Banco.
O papel das associações da sociedade civil continuará aumentando. Meus colegas e eu seguimos os debates que aconteceram no Fórum Social Mundial nos últimos dois anos, e discutiremos com interesse idéias e propostas que surjam este ano. E também devemos agir. Devemos utilizar todos os recursos disponíveis - dos setores público e privado, das agências internacionais e comunidades locais - para introduzir inovadoras soluções para a redução da pobreza.
O futuro está em nossas mãos, não somos meros espectadores. Podemos contribuir para um renascimento dos valores, da Justiça social e da liberação do terror. Não estaremos de acordo em todos os temas, mas podemos concordar em que é possível um mundo melhor e trabalhar muito mais estreitamente para torná-lo realidade. (IPS)
(*) James D. Wolfensohn é presidente do Banco Mundial.